terça-feira, 7 de julho de 2015



JUSTIÇA HUMANA E JUSTIÇA DIVINA

A maior parte das pessoas ainda não têm domínio nenhum sobre os seus impulsos. Se estão dececionadas com alguém, fazem tudo para desacreditar essa pessoa perante os outros e para lhe criar uma situação insustentável. Não lhes interessa que ela corra o risco de ficar doente ou até de se suicidar, nem sequer pensam que o Céu pode responsabiliza-las por isso e que estão a preparar para si próprias um carma terrível.
O facto de terdes sido enganados e iludidos por alguém não vos dá o direito de ir relatar por todo o lado o que essa pessoa vos fez. Dir-me-eis: «Mas é para fazer justiça!» Não, esse modo de compreender a justiça é a origem de todas as desgraças. Em nome da justiça, qualquer um pensa que pode castigar uns e dar lições a outros. Deixai a justiça em princípio que está para além da justiça, um princípio de amor, de bondade, de generosidade.
Há já dois mil anos que Jesus trouxe este novo ensinamento, o do amor, mas, apesar disso, os cristãos continuam a aplicar a lei de Moisés: «Olho por olho, dente por dente.» Ainda não compreenderam que, para se tornarem verdadeiramente grandes e livres, as pessoas não devem seguir à risca esta lei da justiça. Será que triunfareis quando virdes o vosso inimigo completamente despedaçado?
Pode acontecer que não fiqueis orgulhosos de vós próprios e que comeceis a arrepender-vos do que fizestes; mas será demasiado tarde e tereis preparado muito más condições para esta vossa incarnação ou para a próxima.
Por conseguinte, é necessário aprender a nova atitude. Fizestes bem a alguém, destes-lhe dinheiro, por exemplo, e depois, um dia, verificais que essa pessoa não merecia a vossa ajuda: então, ides relatar a toda a gente o que lhe fizestes, mostrando que ela não correspondeu à vossa bondade. Para quê ir falar de tudo isso? Se tiverdes feito bem e fordes dizê-lo a toda a gente, destruireis esse bem. Estava escrito no alto que deveríeis ser recompensados e agora, agindo dessa maneira, anulareis a vossa boa ação.
Mesmo que alguém vos tenha enganado, mesmo que alguém vos tenha prejudicado, isso não importa, não faleis em tal. Pelo contrário, com a vossa atitude deveis mostrar a essa pessoa que valeis mais do que ela; um dia, ela envergonhar-se-á e não só fará tudo para reparar o mal que vos fez, como ainda quererá tomar-vos como modelo. Quando vos decidireis a mostrar grandeza e nobreza de caráter? É preciso fechar um pouco os olhos e perdoar, será assim que crescereis e vos tomareis formidáveis. E, além disso, o que tiverdes perdido voltará a vós mais tarde, multiplicado por cem. De outro modo, se tentardes vingar-vos, criareis imensas coisas negativas que um dia recairão sobre vós e tereis de pagar as suas consequências.
Só então compreendereis a estupidez da vossa conduta.
Portanto, o que quer que vos façam, não queirais vingar-vos, esperai que o Céu se pronuncie a vosso favor, o que acontecerá obrigatoriamente, mais tarde ou mais cedo, se tiverdes procedido bem.
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Compreendei, de agora em diante, como é vantajoso receber a luz da Iniciação! Se um homem vulgar for prejudicado ou humilhado, ripostará, evidentemente, para dar uma lição ao seu adversário, e todos pensarão que isso é normal, que é justo. Sim, talvez seja justo, segundo o conceito de justiça que as pessoas têm, mas, como já vos disse, aquilo que é justiça aos olhos das pessoas comuns torna-se estupidez aos olhos dos Iniciados. Eis o que acontecerá: logo que esse homem der largas aos seus desejos de vingança, entrará num círculo infernal do qual não mais poderá sair. Livrou-se de um inimigo, de acordo... mas aparecerão outros, e novamente ele quererá eliminá-los, isto é, alimentará em si sentimentos e atitudes que só reforçarão a sua natureza inferior. E, no fim, o que terá ele ganho? Nada, pois todos esses inimigos voltarão, eles não desapareceram completamente, reincarnar-se-ão e terão todas as possibilidades de tirar a desforra. E assim, aquele que pensava desembaraçar- se dos seus adversários, na realidade, prepara muitos outros para o seu futuro, e ele é que virá a sucumbir.
Este velho método da vingança não traz qualquer solução; pelo contrário, complica as coisas, sobrecarrega a existência, aumenta as dívidas cármicas e acaba por conduzir a desfeitas que, mais cedo ou mais tarde, levarão a que seja o vingativo a desaparecer.
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 Então, não se pode dizer que ele agiu com grande inteligência!
Consideremos agora um verdadeiro Iniciado.
Também ele, fatalmente, foi ultrajado, enxovalhado, espezinhado e humilhado por seres interessados em combatê-lo. Mas, como conhece as leis, ele aplica outros métodos. Em vez de se vingar diretamente dos seus adversários, deixa-os tranquilos, livres, em paz: que continuem como quiserem! Ele sabe, antecipadamente, como eles vão acabar, e, entretanto, vai-se preparando. Para quê? Para os massacrar? Não, já vos disse que ele não quer carregar-se de dívidas que teria de pagar, quer ser livre e forte. E a força não consiste em pegar no revólver ou na espingarda para abater um inimigo; isso não é força, é fraqueza... e ignorância, ainda por cima.
Portanto, o Iniciado prepara-se. Ele diz: «Ah! Ah! Pensais que me destruístes? Esperai, vereis o que vai acontecer!» E começa a fazer um trabalho gigantesco sobre si próprio: reza, medita, estuda, treina-se, até ao dia em que possua finalmente a verdadeira sabedoria, os verdadeiros poderes. E se então os seus inimigos o encontrarem, ficarão estupefactos. Algo de inexprimível acontece no seu cérebro, no seu coração, na sua alma... Perante a luz deste Iniciado que, em vez de se vingar, trabalhou sobre si próprio, eles sentem-se feios e sem brilho, percebem que desperdiçaram a sua resistência e decidem modificar-se. Pois bem, é esta a verdadeira vitória, é este o verdadeiro triunfo do Iniciado: mesmo sem atacar os seus inimigos, mesmo deixando-os tranquilos, ele venceu, levou a melhor sobre eles.
Diz-se na Bulgária: «Não empurres um bêbado, ele cairá sozinho.» E é verdade, aquele que se embriagou com o seu orgulho, com a sua presunção, com a sua grandeza, um dia cairá sozinho, sem que o empurreis. Se o empurrardes, a lei responsabilizar-vos-á pela sua queda, mas se o deixardes tranquilo ele cairá inevitavelmente e vós não tereis nada a ver com isso. Entretanto, ter-vos-eis ocupado apenas com o vosso próprio aperfeiçoamento, com tudo o que é puro, luminoso, divino. Não será a melhor solução? Claro. É evidente que é preciso ter muito amor, muita bondade, muita paciência, muita luz, para aplicar este método, mas não conheço outro mais eficaz. Sem maldade, sem vingança, acumulais carvões em brasa sobre a cabeça dos vossos inimigos: eles observar-vos-ão e isso basta. Depois, arrepender-se-ão e virão reparar o mal que vos fizeram.
Sim, porque existe uma lei na natureza segundo a qual – e se não for nesta encarnação, será na próxima – todos os que vos fizeram mal serão obrigados a vir procurar-vos para reparar as suas falhas. Pode acontecer que, sentindo intuitivamente que são antigos inimigos, queirais afastá-los; de nada vos vale, eles continuarão a andar à vossa volta e a pedir que aceiteis os seus préstimos. É assim a lei; já aconteceu isto a muitas pessoas. Todos os que vos fizeram mal e aos quais não pagastes na mesma moeda serão obrigados pela lei (quer queiram quer não, a sua opinião não conta) a vir reparar os seus erros.
O Iniciado é capaz de se vingar, sim, mas apenas por intermédio da luz e do amor. Também vós podeis vingar-vos, é normal uma pessoa vingar-se, por que não? Mas há duas maneiras de o fazer: maltratar fortemente o vosso adversário, difamá-lo, ou então deixá-lo intacto, mas provocar no seu coração, na sua alma, uma viragem completa, que só pode ser benéfica para vós e para ele. Esta segunda atitude é duplamente vantajosa.

3
Aconselho, pois, os irmãos e as irmãs da Fraternidade a fazerem o possível por regularizar os seus problemas sem se carregarem com novos carmas.
Por que é que até os membros de uma família precisam de se enfrentar em tribunal por questões de dinheiro? Não conseguem passar por cima disso?... Por que é que os homens se agarram sempre tanto aos seus interesses, aos seus haveres? Que façam um gesto, meu Deus, e ficarão livres! De início, evidentemente, não se sentirão muito felizes por esse gesto, sofrerão, sentir-se-ão oprimidos. Mas, se conseguirem fazê-lo, descobrirão novas regiões, novas luzes, e não haverá ninguém mais legitimamente orgulhoso de si próprio e mais feliz do que eles, porque terão realizado algo muito difícil: vencer a sua natureza inferior, a sua personalidade.
É a personalidade que aconselha continuamente o homem a “puxar a brasa à sua sardinha”, a caluniar, a vingar-se e até a ir a tribunal para culpabilizar os outros. E depois as pessoas pensam que compreenderam o Ensinamento! Pois bem, não entenderam nada. Ouvem as conferências, leem os livros, ficam maravilhadas, mas continuam a agir segundo os velhos hábitos, é isso que eu tenho constatado. Perante uma tal luz, perante tais verdades, perante tais revelações, continuar a proceder como toda a gente é deplorável!
Se confiardes na bondade, na inteligência e no amor divinos para vos ajudarem a resolver os vossos problemas, o Céu não vos abandonará, porque fizestes algo que vos liga a ele. Eis um ponto que muitos de vós ainda não compreenderam. Não têm suficiente fé e confiança no poder do mundo invisível, que pode ampará-los e facilitar a sua existência se trabalharem conforme ele lhes pede. Confiam sempre nas artimanhas e nas desonestidades da personalidade, e é por isso, aliás, que não são bem-sucedidos, mais cedo ou mais tarde o mundo invisível apresenta-lhes obstáculos. Ao passo que os Iniciados, que respeitam as leis e confiam no Céu, nunca são abandonados. Ainda que o mundo inteiro os abandone, eles são amparados, encorajados, iluminados, e acabam por triunfar.


Notas:
1. Cf. L’amour plus grand que la foi, Col. Izvor n.º 239, cap. X: «Comment fonder notre confiance dans les êtres».
2. Cf. O Livro da Magia Divina, Col. Izvor n.º 226, cap. XVI: «Nunca procureis vingar-vos».
3. Cf. Cherchez le Royaume de Dieu et sa Justice, Parte V-II: «Aimez vos enemis».

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